Rio -  Glauber Rocha, na Pavuna. E é assim mesmo que Ioliris Paes, 47 anos, se sente: mãe dos 512 alunos da unidade onde é diretora. Há 16 anos à frente da instituição, conseguiu tirar a escola do abandono e colocá-la em primeiro lugar no pódio do ensino municipal do 1º ano 5º ano, com o melhor Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2011 do Rio.
A média de 8,5 rendeu também o título de segunda melhor do Brasil.  O caminho até a medalha de ouro não foi fácil e começou a ser traçado na comunidade Parque Colúmbia, também na Pavuna, onde a diretora nasceu e cresceu.
Foto: Carlo Wrede / Agência O Dia
Segredo das boas notas é o amor, conta diretora que é chamada por alunos de mãe: ‘Ver um aluno lendo um livro vale mais que Ideb’ | Foto: Carlo Wrede / Agência O Dia
De origem pobre, filha de costureira e motoristas, Ioliris tinha o sonho de ser professora desde os 5 anos. “Nunca quis bonecas. Sempre pedi quadro-negro e hidrocor”, lembra. Sua mãe, apesar de não ter terminado a escola, sempre cobrou estudo: “Ela me dizia que a educação era minha única forma de transformação, de crescer”.
Após muitas noites sem dormir, dividindo o tempo entre as aulas que ministrava em uma escola municipal e a faculdade de Pedagogia à noite, ela recebeu o convite para ser diretora do Ciep Glauber Rocha em 1995. Ali começava seu maior desafio.
“A escola estava toda quebrada. Só tinha 80 alunos, um faxineiro e oito professores. Muitas vezes meu marido ia até o colégio fazer reparos na iluminação, encanamento. Eu limpava chão, varria, e até merenda já cozinhei”, lembra.
Depredação e arrombamentos
Para dificultar ainda mais, durante sete anos arrombamentos e depredação foram constantes. “Eu passava na escola todo domingo para ver o que tinha sido roubado e precisava ser reposto para que as crianças tivessem aula segunda. Tirava dinheiro do meu bolso. Um dia roubaram todas as panelas do refeitório, e eu não podia deixar os alunos sem merenda. Descobri que tinham vendido para ferro-velho da comunidade Final Feliz. Fui lá e peguei de volta”, conta.
Hoje, ela comemora a boa fase da escola e revela o segredo: “O amor. Crescemos porque o trabalho de toda a equipe é feito com prazer. Faço questão de abrir e fechar todos os dias o portão da escola. O dono da festa tem que estar aqui para receber os convidados. O resultado foi uma alegria, mas nada paga ver um aluno lendo um livro. Isso vale mais que qualquer Ideb”.
Quem pensa que Ioliris chegou ao topo está enganado. “Os sonhos continuam. Quero ano que vem abrir turma do 6º ano na escola e mais para frente pretendo alfabetizar todos os alunos com 6 anos, assim como na escola particular”, prevê. Para sua vida pessoal, outro sonho: “Escrever um livro que conte minha história no Ciep e mostre que com força de vontade tudo é possível”. Uma verdadeira heroína.