Rio -  Oscar Niemeyer deixou sua assinatura em mais de 500 obras mundo afora. Mas é no Rio que está a maior concentração delas. De um de seus mais queridos trabalhos, há nada menos do que 506 réplicas. São os Cieps — ou Brizolões, apelido dado às escolas de Leonel Brizola, eleito governador do estado em 1982 e 1990. Na semana em que o Brasil perdeu o gênio de sua arquitetura, alunos que estudam em uma dessas escolas, na Pavuna, prestaram homenagem ao mestre.
Foto: Paulo Araújo / Agência O Dia
Foto: Paulo Araújo / Agência O Dia
“Ele criou o lugar em que eu mais gosto de estar”, resumiu Pablo, 10 anos, estudante do Ciep Glauber Rocha.
O DIA esteve na unidade, sob gestão do município, que concentra alunos da região com o pior Índice de Desenvolvimento Humano da cidade, e encontrou a escola em plena atividade mesmo em período de férias. Desafiados a desenhar algo que lembrasse Niemeyer, todos os alunos optaram por apresentar suas versões para o Ciep.
“Tudo aqui é muito bom. A pior hora é a de voltar para casa. A gente adora vir para a escola. Se eu pudesse, viria todo dia”, disse Hudson, 10 anos. A unidade alcançou o melhor desempenho do Rio no Ideb, índice que mede a qualidade do ensino.

TRAÇO DEU FORMA A UM IDEAL

Idealizados pelo professor Darcy Ribeiro, os Brizolões tomaram forma pelo traço do arquiteto. Ele optou por um projeto simples, bem diferente do habitual, para que cada um pudesse ser construído em quatro meses. Brizola e Darcy tinham pressa.
“Eles apostavam na escola pública como gerador de oportunidade. O Ciep não é só um prédio, mas uma proposta educacional que alia aula, esporte, arte, leitura e qualidade de atendimento”, explica a secretária municipal de Educação do Rio, Claudia Costin, entusiasta do projeto.
Data final para o sonho: 2020
Diretora há 17 anos do Ciep Glauber Rocha, na Pavuna, um dos poucos cujo ensino sempre foi em tempo integral, Ioliris Alves orgulha-se de sua escola.
“Basta ver o olhar das crianças quando elas chegam aqui e quando saem, como elas se transformam. Niemeyer, Darcy e Brizola foram visionários”, assegura.
A proposta original do Ciep era proporcionar aos alunos ensino em tempo integral. Em 2010, a Câmara de Vereadores do Rio criou uma lei que obriga o turno duplo em todas as 1.064 escolas da rede municipal até 2020.
Só 15% dos alunos em turno integral
A Secretária Municipal de Educação, Claudia Costin, promete honrar o legado deixado por Niemeyer e demais idealizadores dos Cieps: “Imaginávamos que este projeto era uma utopia. Mas ele pode e vai virar realidade.”
A lei que obriga a implantação gradual do ensino em tempo integral no município prevê aulas pela manhã e atividades extra-curriculares à tarde. “Serão sete horas de aula e duas de arte, esporte e reforço escolar. Já temos 116 escolas assim, o que corresponde a 15% do número de alunos. Vamos chegar a 2016 atendendo a 35%”, garante Costin.